Lá, o Príncipe Charles vai visitar o projeto Luta pela Paz.
Agência Estado
Bill Clinton escolheu a Mangueira. João Paulo II, o Vidigal. Carla Bruni, a favela do Cantagalo. Personalidades e chefes de Estado em visitas oficiais ao Rio costumam dar uma passadinha numa favela carioca. Desta vez a escolhida foi a Nova Holanda, dentro do Complexo da Maré, na zona norte, ao lado da Linha Vermelha. Lá, o Príncipe Charles vai visitar o projeto Luta pela Paz, criado há oito anos pelo antropólogo e ex-boxeador inglês Luke Dowdney.
A favela recebeu um choque de ordem para inglês ver. Na segunda-feira (09), a polícia prendeu o chefe do tráfico da área, Amabílio Gomes Filho. Hoje (11), a prefeitura mandou cortar o mato da rua onde fica a sede do projeto, além de retirar as carcaças de carros abandonados há anos no trecho onde a comitiva de Sua Alteza vai passar. Os olheiros do tráfico também sumiram da área.
A esperança de Luke Dowdney, 36 anos, mestre em Antropologia pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, é que a visita do herdeiro do trono inglês faça muito mais pelos cerca de 130 mil moradores da Maré do que a limpeza da rua por apenas um dia. Dowdney sonha em transformar o trabalho com 850 meninos entre 7 e 25 anos, em política pública no futuro. "Espero que a visita do príncipe chame atenção aqui no Brasil sobre o que estamos fazendo", diz. "Queremos trabalhar juntos com o governo estadual, municipal e federal."
O trabalho impressiona. Os meninos aprendem capoeira, luta livre e boxe, além de inglês, informática e cidadania. Ninguém paga nada. A única exigência é que estejam estudando. Tudo bancado com dinheiro que vem de fora. "Das doações que recebemos, 99,9% são de instituições estrangeiras. Aqui, recebemos ajuda da Bovespa e do Emerson Fittipaldi." Dowdney não acredita em caridade. "Não serve pra nada. Os jovens desta comunidade são heróis de verdade. Estamos aqui para oferecer oportunidades a estes meninos e reverter uma tragédia, que é a entrada de crianças no crime por falta de opção."
O Luta pela Paz já formou um vice-campeão brasileiro de boxe, Roberto Custódio, convocado para a seleção brasileira que acabou de disputar um torneio na Itália. Custódio entrou para o projeto aos 14 anos. Agora, aos 22, virou exemplo para os outros meninos São jovens como Alessandra dos Santos, 11 anos, que frequenta o Luta pela Paz desde 2007. "Não tenho medo de levar soco. Hoje no treino levei um no nariz. Doeu, mas depois passa. Quero ser lutadora como no filme "Menina de Ouro", sonha. Medo mesmo ela tem de ser pega por uma bala perdida na favela.
Amanhã (12), quando o Príncipe Charles visitar o projeto, Alessandra vai estar na escola. "Não vou faltar a aula só para ver um príncipe", diz.
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