terça-feira, 10 de março de 2009

Rosilete Santos & o Boxe: A batalha de salto alto, batom e muitos socos.

Mãe, esposa, empresária, dona-de-casa e campeã mundial de boxe. Essa é Rosilete Santos

Fonte: http://www.bemparana.com.br/index.php?n=99742&t=a-batalha-de-salto-alto-batom-e-muitos-socos

Juliana Sartori - foto: Jonas Oliveira

Rosilete com a filha Nicoly, na academia de boxe: luta em defesa do título mundial em 17 de abril

Rosilete com a filha Nicoly, na academia de boxe: luta em defesa do título mundial em 17 de abril de 2009.

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Rosilete Santos, 34 anos, poderia ser apenas mais uma entre as milhares de brasileiras lutadoras que entraram no ringue da vida para enfrentar uma carreira difícil, tocar uma empresa e ao mesmo tempo fazer faxina da casa, trocar fraldas da filha e cuidar do marido. No entanto, ela resolveu levar a palavra luta um pouco mais a sério, já que é a primeira mulher nascida no Brasil a se tornar campeã mundial de boxe.
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A atleta, que tem como características partir para cima do adversário sem se intimidar e tem um golpe direto de direita e cruzado de esquerda matadores, garante que além dos ringues tem outras batalhas para enfrentar muito conhecidas pela população feminina. “Hoje estou muito bem preparada fisicamente, me sinto mais forte, mas estou também bastante estressada”, confessa.
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Ela está em ritmo intenso de treinamento para brigar para manter seu cinturão de campeã mundial e ao mesmo tempo encara problemas cotidianos nada fáceis. Rosilete tem uma academia de boxe para cuidar - empreendimento que toca junto com o marido e treinador Macaris do Livramento -, a pequena Nicoly de apenas dois anos - e um marido, companheiro e inspiração no boxe, mas que hoje está na luta contra problemas cardíacos.

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Rosilete tem também mais uma adversária íntima das mulheres: a balança. “Ando com dificuldade para perder peso. Ganhei muita força e massa muscular, agora tenho que mudar dieta e treinamentos”, conta.
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Quem já viu a feroz Rosilete no ringue talvez não imagine sua delicadeza e carinho no tratamento com marido e filha. Com olhos marejados, a lutadora confessa que ser mãe mudou sua rotina e interfere diretamente nos seus treinos. “Ao mesmo tempo que estou com muita garra para começar o ano para batalhar para ficar com cinturão, também estou preocupada com a minha filha, que está crescendo e está aqui nos acompanhando nessa nossa rotina que não é nada fácil. Ela é ainda muito pequena, precisa de atenção”, diz Rosilete, enquanto a sapeca Nicole corre entre os alunos da academia que estão socando os sacos de areia.
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Mas o ano de 2009 chegou e está cobrando de Rosilete novas conquista e quebras de recordes. No dia 17 de abril, em São José dos Pinhais, ela defenderá o título mundial da Comissão Mundial de Boxe. “Foi tão difícil conseguir esse cinturão. Não pretendo entregar ele pra ninguém não”, garante.
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A campeã
Nome: Rosilete Santos
Idade: 32 anos
Currículo amador: estreou em 2001 e fez 16 lutas (14 vitórias, 1 empate e 1 derrota) pela categoria até 54 kg
Currículo profissional: estreou em 2003 e fez 17 lutas (13 vitórias e 4 derrotas)
Ranking: Em outubro de 2008 chegou a ocupar o 5º lugar no ranking na categoria supermosca (até 52 kg) da Associação Mundial de Boxe (AMB), a mais importante das entidades do esporte.
Título: Campeã mundial pela CMB (peso galo, até 53,5 kg)

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Trajetória da lutadora é marcada por obstáculos

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A trajetória de Rosilete desde os dias em que trabalhou na roça, na cidade de Castro, onde nasceu, até a conquista de cinturões internacionais, mostra a capacidade da mulher quando quer alcançar seus objetivos. E como boa brasileira, seu caminho foi recheado de dramas, dificuldades e, é claro, muita paixão.
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Uma jovem de vinte e poucos anos da região rural de uma pequena cidade do interior do Paraná, filha de uma família de nove irmãos, conhecia pouco da vida além do cabo da enxada, serviços domésticos e o estudo que completava no supletivo. A rádio anunciou que era dia de luta internacional de boxe. Isso significava entretenimento e oportunidade para fazer um trabalho da escola: uma pequena entrevista que deveria virar uma redação.
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Rosilete foi logo atrás de Macaris do Livramento, a atração da luta. Uma rápida conversa, estar pela primeira vez na platéia de uma luta de boxe e pedidos de autógrafos foram suficientes para que a jovem interiorana se apaixonasse. Pelo boxe e pelo boxeador. Depois de mais algumas lutas na cidade, Rosilete passou a seguir Macaris em suas lutas pelo Paraná. Tornou-se sua assistente geral para divulgação das lutas e montagem de ringues – um serviço pra lá de pesado. .
“Eu passava meus dias vendo o Macaris treinar e comecei a imitar os movimentos só de brincadeira”, conta. Não demorou para que o experiente boxeador percebesse a aptidão de Rosilete para o esporte e passasse a incentivá-la pra entrar no boxe de vez. Começou no amador, em 2001, e em dois anos, já lutava profissionalmente, impressionando muito homem musculoso por causa de sua força e dedicação.
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“Quando passei para o profissional, meu grande sonho era participar das lutas internacionais. Mas ninguém me chamava para participar. Meu desejo de ser mãe aumentava e resolvi parar de esperar”, conta Rosilete. Em 2007, a pequena Nicoly nasceu e ao mesmo tempo a saúde de Macaris começou a ficar comprometida, devido ao infarte. “Eu estava no hospital em trabalho de parto e o Macaris na UTI”, lembra emocionada.
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E foi quando Rosilete retomou os treinos após a gravidez que o telefone tocou e finalmente veio o tão esperado convite. “Me chamaram para disputar o título mundial da categoria até 52 kg, o que significava que tinha que perder 11 quilos e pouquíssimo tempo para poder disputar”, conta.
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No início de 2008, a boxeadora já estava em forma novamente. Na verdade, na sua melhor forma. Foi esse o ano de todas as suas grandes conquistas, como o título mundial, 5ª colocação no ranking mundial de boxe e reconhecimento internacional.

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Neste ano, Rosilete quer aumentar sua lista de conquistas. Nela está a manutenção do título, conseguir patrocínio e alguns desejos pessoais como: ver mais mulheres no ringue e ser uma referência para as jovens atletas, o aumento do público nas lutas e quem sabe ver sua mãe assistindo uma luta sua. “Toda minha família já me assistiu lutando, irmãs, irmãos e meu falecido pai. Mas minha mãe nunca me viu no ringue. Diz que não ia ver conseguir ver a filha dando e recebendo socos”, ri.

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